Antes que a Paraiba esqueça José Silvino o Pai do Canaã 2d1343

Hoje, 11/06/2025, o engenheiro José Silvino Sobrinho completa 89 anos de idade. Homenagearemos o amigo contando um pouco de sua biografia, e as realizações que deixaram marcas na história de Campina Grande e da Paraíba. Jovem imberbe, aos 19 anos no Diário da Borborema, um dia conversando com meu avô comentamos com orgulho que tínhamos muitos amigos. Citamos várias figuras ilustres da época. No final, ele nos advertiu. “Quando você ar dos 50 anos, eu não estarei mais aqui. Mas, lembre-se deste dia e conte pelo menos cinco, destes muitos amigos, nos dedos de sua mão direita. Talvez não chegue a tantos”. 116u6r
Silvino é um, dos poucos dedos que restam, e não chegaremos mais aos cinco. Coincidentemente neste ano de 2025 comemoramos cinquenta anos de amizade. O conhecemos como Diretor do CCT (Centro de Ciências e Tecnologia da UFPB), incorporado à UFCG após sua fundação.
Nossa ida ao CCT foi para conhecer o primeiro computador do Nordeste. Era o futuro, novas tecnologias que chegavam a Campina Grande.
Um espaço com cerca de 10 x 10, climatizado com 17 graus, frio e repleto de armários em suas paredes, com fitas magnéticas (rolos), as mesmas usadas para gravadores antes de surgirem os portáteis, com cassetes. Uma série de estranhas máquinas de escrever, onde operadores – imaginamos que fossem datilógrafos – digitavam em teclas códigos, e ao lado, saiam estreitas tiras de papéis picotadas. Estas fitas eram inseridas em uma outra máquina, que fazia sua leitura e armazenava num banco de dados. Não entendemos absolutamente nada do que vimos, por mais que Silvino nos explicasse.
Mostrou-nos o funcionamento do Curso de Meteorologia e a construção do seu centro. Só existia um no Brasil, em Campinas (SP). Não sabemos se ainda funciona este Centro de Meteorologia e se a UFCG continua oferecendo graduação nessa área. O Laboratório de Elétrica, respeitado em todo o País, era outra obra em andamento, inaugurada em 1978.
Na turnê, visitamos a ATECEL (Associação Técnico Científica Ernesto Luís de Oliveira Júnior), entidade de direito privado, sem fins lucrativos, fundada pelos professores da antiga Escola Politécnica. Inspiração de Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, Silvino, Átila e Luís Almeida, Marcelo Figueiredo Lopes, dentre outros. Disponibiliza pesquisas, extensão, treinamento e capacitação.
Enivaldo Ribeiro havia vencido Ivandro Cunha Lima nas eleições municipais de 1976. Estava formando a equipe, quando seu cunhado Doquinha Cabral (filho de Seu Cabral) sugeriu o nome de José Silvino para a Secretaria de Obras. Estávamos conversando com Silvino quando chegou em sua casa na Getúlio Vargas Raymundo Asfora (vice de Enivaldo), Deodato Borges e Bazinho (Altair Pereira), eleito vereador. O convite foi oficializado. O convocado pediu tempo para pensar, pois teria que deixar o CCT. Seria uma mudança brusca em sua vida, como de fato foi. Teria que adiar seus sonhos e projetos na área acadêmica.
Enivaldo assumiu no dia 01/02/1977. Silvino foi empossado Secretário de Obras, formou uma equipe tendo à frente saudoso Renato Azevedo, escolhido como Diretor Técnico da CONDECA, com o propósito de elaborar projetos urbanísticos que mudariam completamente a cidade.
Campina Grande só tinha asfalto na Praça da Bandeira. Em sua primeira entrevista, Silvino anunciou o asfaltamento de todas as rotas de transporte coletivo da cidade. Começaram a perguntar quem era aquele lunático.
Quando estava fazendo seu Mestrado na PUC/Rio, Silvino conheceu os diretores da EBTU (Empresa Brasileira de Transportes Urbanos), uma estatal do governo que financiava o planejamento, gerenciamento, infraestrutura e tecnologia na área de transportes urbanos para as grandes cidades. No final de 1977, todas as linhas de ônibus de Campina Grande estavam asfaltadas, e não existia mais o “gargalo” da entrada da cidade para quem vinha do Sertão, a “volta de Zé Leal”.
Um novo Plano Diretor foi elaborado. A CONDECA era uma “usina de projetos”, parturiente dos CURA I, II e III. A gestão de Enivaldo, que durou seis anos – prorrogação de mandatos – só conseguiu gastar os recursos do CURA I. Ronaldo Cunha Lima encontrou em “cofre” recursos para os CURA II e III.
Ainda como legado de Silvino, registre-se, a Av. Floriano Peixoto e o primeiro Distrito dos Serviços Mecânicos do Brasil, construído para desobstruir as ruas centrais da cidade. Dois anos depois (1978), Tarcisio de Miranda Burity foi eleito governador do Estado. Ao assumir em março de 1979 convidou Silvino para presidir a CAGEPA, expandindo o abastecimento para todas as cidades da Paraíba.
Nada acontece por acaso. Burity era Chefe de Gabinete do Reitor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, e conhecia Silvino como um dos “pupilos” do gênio campinense, pouco lembrado na cidade. Sua permanência na CAGEPA durou dez meses. Com a exoneração do Secretário de Planejamento Amaury Pinto, Burity nomeou Silvino para a pasta. Em seguida, outra crise no governo. Burity exonerou Hermano Almeida, Secretário de Viação e Obras. Nomeou Silvino em seu lugar, que ou a acumular as duas secretarias. Razão para ser considerado como “Supersecretário” do governo Burity I. A Secretaria de Obras comandava a CAGEPA, SAELPA, SUPLAN, COHAB, DER, DEFESA CIVIL. Em três anos, asfaltou 860 km de estradas, construiu mais de 60 barragens de médio e grande porte, conjuntos habitacionais como o Valentina Figueiredo, Álvaro Gaudêncio (Malvinas) em Campina Grande, a nova Rodoviária de João Pessoa e Campina Grande, o Aeroporto Castro Pinto, Espaço Cultural, uma rede de hotéis da PBtur, projeto Pró-bairros pavimentando todas as ruas de João Pessoa…
No governo Wilson Braga, sucessor de Burity, criou a primeira Secretaria de Recursos Hídricos do país, o Projeto Canaã – açudagem, eletrificação rural, irrigação e abastecimento d’água singelo. Ao lado de Walfrido Salmito Filho, superintendente da SUDENE, elaborou os primeiros estudos para a Transposição de Bacias e Expansão das Águas do Rio São Francisco, para todo o semiárido. Originalmente, um canal de 400 km ligaria as bacias do Rio Tocantins e São Francisco. Seria o final das secas. Esqueceram a transposição das bacias e denominaram a expansão em transposição das águas do São Francisco. Iniciado por Ney Suassuna, quando assumiu o Ministério da Integração Nacional, sugerido por José Silvino.
Tudo que relatamos – o espaço é pouco – representa talvez 15% das realizações de Silvino. Hoje, desejamos que Deus lhe conceda saúde e longevidade, ao lado de Dona Regina Sônia Lima Silvino.